"Nós da Lupe de Lupe sempre tentamos ser corajosos e arriscar. Muitas vezes demos tiro no pé, perdemos amigos, perdemos oportunidades, nossa banda possivelmente nunca será grandiosa por causa do risco que existe na Lupe de Lupe. "Risco" sempre foi uma das nossas palavras. Dessa vez esgotamos de vez toda a nossa criatividade em 21 músicas feitas no curso de um ano, após o lançamento do EP Distância. Muitas músicas e ideias foram jogadas fora. Pegamos apenas as que cabiam no disco, como sempre fizemos. A maior parte da produção foi feita de forma pesadíssima nos últimos três meses. Estamos exaustos e completamente emocionados com a ideia e a musicalidade do Quarup. Um disco duplo, com dois lados, um positivo e um negativo. 2 horas de música. Quarup. Custou pouquíssimo dinheiro pra ser produzido. Mesmo que ele não tenha a visibilidade necessária, mesmo que ele se torne um disco esquecido, mesmo que ninguém ouça, mesmo que ele não cause - nós fizemos. Muitas dessas músicas só existiam em nossos sonhos desde o início da banda, músicas que vagam por inúmeros estilos que não produzimos anteriormente. Músicas que fizemos em nossos sonhos. O risco de lançar um disco duplo acabou se transformando o formato numa coisa rara, principalmente aqui na música independente. Tão rara quanto a nossa banda. É muito trabalho, muita letra e muita composição. E lançar um disco duplo pra quem? Quem vai ouvir? Nós ouviríamos. E não é isso que importa no final das contas?
Lupe de Lupe, 4 moleques do interior de Minas Gerais, 4 compositores unidos apenas pela coragem e pelo risco. Nunca fomos bons compositores, nem bons cantores, nem bons instrumentistas. Nem nunca conseguimos acompanhar as inovações tecnológicas de equipamentos e som, ou mesmo as novas tendências musicais brasileiras. Nossa forma idiossincrática, arrogante, tosca, contraditória, pretensiosa, atrevida e antropofágica de ser e fazer nossas músicas acabou virando nosso estilo. Nada foi pensado anteriormente. Lupe de Lupe ame ou odeie, acabou virando nossa marca. É um estilo que não é bonito, mas muito raro, de fato. Em uma palavra, se tem uma coisa positiva que de fato que a gente tem e resume o que é Quarup e o que é Lupe de Lupe - é ambição. A gente sempre mirou mais alto do que podíamos e merecíamos. Sempre mirou mais alto. Esse foi o nosso maior erro e o nosso maior acerto. Esse disco é fruto de todas as nossas felicidades e nossas tristezas, mas acima de tudo esse disco é um fruto da nossa ambição, do nosso risco e dos nossos sonhos. E nisso a gente é a maior banda brasileira, sim. Com as maiores ambições, os maiores riscos e os maiores sonhos. Conseguimos tirar leite da pedra durante tanto tempo. Mas ainda assim continuamos. Não sabemos quando sairá o próximo e qual o tamanho e valor que ele vai ter pra gente. Pode demorar um tempo. Tentamos até aqui lançar um projeto por ano, mas não sei vai continuar desse jeito.
Enfim, Quarup é um disco duplo que vai entrar pra nossa história de vida. Sem crowdfunding, sem lei de incetivo, sem selo, sem apoio de ninguém, sem show de lançamento, sem conhecimento da grande mídia e mesmo de grande parte da pequena mídia. Quem encosta a mão na Lupe de Lupe tem de ser corajoso e não ter medo de perder. É arriscado demais, é perigoso demais, dá trabalho demais. Pra que mexer com a Lupe de Lupe? Não é pra todo mundo e não é pra qualquer um, é verdade. Somos o que somos. E agora somos Quarup. Que esse disco e a nossa curta carreira sirva de exemplo para todos que quiserem fazer música ambiciosa com nada. Mesmo que isso signifique tirar música e leite da pedra. Todos nós já vencemos só de estar aqui. Não fomos tão longe ou tão alto, mas fomos muito além do que todo mundo imaginava. Quem diria, um disco duplo. Estamos muito orgulhosos. Obrigado a todos os envolvidos!
De coração,
Lupe de Lupe"